quarta-feira, 1 de abril de 2009

1° de Abril


A mega sena acumulara. O prêmio era de cinquenta e dois milhões de reais. O sorteio aconteceria logo mais, às vinte horas, e eu ainda não havia feito minha aposta. As casas lotéricas fechavam às dezoito, bem no horário do fim do meu expediente, mas por sorte, naquele dia fui liberado cinco minutos antes. Desci tropeçando as escadas do estabelecimento onde trabalhava e saí correndo em direção à lotérica mais próxima, localizada na Rua 48. Assim que cheguei lá, avistei a fila da entrada, me juntei a ela e contei que eu era o décimo da fila. Segundos depois, um funcionário da lotérica fechou a porta de vidro e avisou que nenhum apostador poderia mais entrar. Olhei o relógio, vi que tinha acabado de dar dezoito horas e então percebi a sorte que tive ao chegar segundos antes no recinto. Peguei uma cartela e me dirigi a uma bancada para escolher os números. Decidi marcar aqueles que tinham alguma relação com as minhas duas recentes sortes: primeiro marquei o número cinquenta e dois, por ser o valor estimado do prêmio. Depois risquei o vinte, relacionando ao horário do sorteio. Em seguida assinalei o cinco, pelos minutos liberados mais cedo naquele dia. Aí marquei os números quarenta e oito pelo endereço da lotérica, o dezoito por conta da hora que ela fechava e o dez devido à posição na fila. Esperei ser chamado, entreguei minha cartela à funcionária e em seguida ela registrou minha aposta. Saí da lotérica, peguei um ônibus e fui para casa. Tomei um banho e, quando notei, só faltavam alguns minutos para o sorteio. Liguei a televisão e deitei no sofá enquanto mudava diversas vezes de canal. Olhei o relógio e vi que já eram oito da noite. O sorteio estava para começar. Voltei ao canal que iria transmiti-lo no momento em que o apresentador fazia algumas considerações iniciais. Terminada a ladainha, as bolinhas numeradas começaram a chacoalhar nas esferas de ferro. Uma ajudante parou de girar a primeira esfera. Ela levou a bolinha ao locutor e ele revelou o primeiro número sorteado: ‘vinte’. Levantei do sofá, peguei meu bilhete na carteira e confirmei meu primeiro acerto. A auxiliar girou a segunda esfera e após alguns segundos retirou a segunda bolinha: ‘número dez’. Gritei de alegria e abri um largo sorriso. A mesma ajudante foi girar a esfera seguinte. Ela entregou a terceira bolinha sorteada ao locutor e o mesmo anunciou que o número da vez era o ‘cinco’. Eu botei as mãos na cabeça e não sabia se vibrava, tremia ou chorava. Em seguida, ao invés da moça, foi um rapaz para girar a quarta esfera. Roí as poucas unhas que ainda me restavam. Ele aguardou ela parar de rodar, tirou a bolinha que caiu no funil e levou-a até o apresentador: ‘dezoito’ foi o quarto número. Agora eu vibrava, tremia e chorava ao mesmo tempo. O mesmo ajudante da vez anterior foi rodar a quinta esfera. Dessa vez, ao receber a bolinha o locutor inventou de fazer suspense: mostrou-a para a câmera em vez de pronunciá-la. Fui para frente da televisão, ficando a centímetros dela, sem piscar os olhos: o quinto número foi ‘cinquenta e dois’. Comemorei como se tivesse feito um gol em final de campeonato. Pulei no sofá até suas molas não aguentarem mais. Faltava agora um número para eu me tornar milionário, e esse número era ‘quarenta e oito’. Comecei a sussurrá-lo diversas vezes. O próprio apresentador foi girar a última esfera. A bolinha caiu no funil e parou em suas mãos. Eu me ajoelhei, juntei as minhas, fechei os olhos e ouvi o anúncio daquele último algarismo sorteado: “Quarenta e oito!”.

Um comentário:

  1. adorei o texto, meu jornalista!
    tá rulando você...kkkkkkkkk

    te amo, enho :*

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