sexta-feira, 31 de julho de 2009

Botas batidas


O céu chora de angústia e inunda toda a cidade. Suas nuvens não sorriem mais e acinzentam toda a atmosfera. As flores murcham a cada dia e desbotam um vasto campo, aquele que antes era regado de cores, de amores.

O tempo não passa e ultrapassa a paciência, o vento não sopra e tua ausência permanece lá no meu quintal. O ar me falta no pulmão e eu respiro na janela, eu sigo andando em contramão se você não acende esse teu sinal. O bloco passa lá na rua, e eu aqui a tua espera, a banda toca à luz da lua e tua ausência entristece o meu carnaval...

...Se você não está aqui... se teu corpo não está aqui perto de mim...perto de mim...de mim.


"Abre as cortinas pra mim, que eu não me escondo de ninguém, o amor já desvendou nosso lugar, e agora está de bem"
(Marcelo Camelo)



segunda-feira, 27 de julho de 2009

Musicando - parte X


A minha insanidade era normal
Caído num abismo sideral
O mais confuso enigma paradoxal


O susurro me atormenta na madruga
No canto do ouvido, descendo pela nuca
Sou bola branca na mesa de sinuca


A solução é se jogar na rede, e fluir
Com aquela cara de quem não tá nem aí
E abstrair...abstrair...abstrair


Tenho sempre uma pergunta sem resposta
De dia um pedido, à noite uma proposta
Deixo a mesa bem na hora da aposta

De vez em quando um tanto quanto vulnerável
Faz cara de bruto, mas é sempre maleável
Dentre cegos ter um olho é agradável


O ócio do ofício me domava

O resquício de aflição atormentava
Agora eu bato de frente, de fato e contente
Sou meu destinatário e remetente

A solução foi se jogar na rede, e fluir
Com aquela cara de quem não tá nem aí
E abstrair...abstrair...abstrair....

domingo, 19 de julho de 2009

Considerações sobre a distância

amor e namoro a distancia

É tão estranha essa tal de distância. Esse não tocar, não sentir o corpo a corpo, não poder olhar no olho. Nunca achei que isso fizesse uma falta tão grande. Mas faz, e como faz! Nada substitui aquele momento único, aqueles três segundos de silêncio que normalmente resultam num beijo, aquele frio na barriga, a presença daquela pessoa que você tanto quis estar perto. A distância causa também essa dúvida, esse medo, essa aflição com pitada de insegurança. Mas é essa distância, a mesma que me causa todas essas sensações de insegurança, que me faz conhecer você tão bem, que me faz saber o que tem de mais fundo no seu interior. Sem você por perto eu te gosto sem nunca ter te visto, sem nunca ter causado um arrepio na tua pele ao te tocar. Sem você por perto eu enxergo o que a presença não é capaz de observar. Porque às vezes, a presença só se preocupa com a ação e esquece-se do conteúdo. A presença, por vezes, faz com que só o abraçar seja importante. A distância não. Ela me dá tempo, me proporciona escolher o 'sim' ou o 'não' só pela sua escrita ou tua voz. Ahh e que voz. Voz essa que por tantos momentos me acalenta. Acalento que ocupa lugar cativo debaixo do meu travesseiro, nas minhas sucessivas noites de sonos e sonhos.


Porque eu posso nunca ter te visto.

Mas desde sempre eu nos avisto lá na frente.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Di adi a

Nesse mundo tem de tudo, tem crepúsculo e aurora
Tem minuto dia e hora pra chegar
Nesse mundo tem de tudo, coisa boa e coisa ruim
Tem início e não tem fim pra acabar
Tem bebum no botequim, tem madame de cetim
Tem quem queira aparecer a qualquer preço em folhetim

Tem polícia e tem ladrão, marmelada e confusão
Tem quem tenha e quem não tenha, tem o sim, tem o não
Tem polícia e tem ladrão, batucada e papelão
Tem quem tenha e quem não tenha, tenho sim, tenho não

Nesse mundo tem disparidade, tem perigo na cidade
Tem quem more em cobertura, tem queimada e tem tortura
Tem ibote na novela, tem confronto na favela
Tem quem vive de imagem, tem quem vem só de passagem

Tem corrida pelo pão, tem o sem, tem o são
Tem quem tenha e quem não tenha, tem o sim, tem o não
Tem corrida pelo pão, tenho cem, tenho um milhão!
Tem quem tenha e quem não tenha, tenho sim, tenho não

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Retoque total

Quero abrir janela de casa e não ver mais nuvem escura. Quero fechar a janela de casa com a certeza de que, lá fora, tudo está no mais perfeito clarão. Quero que cada pulo seja um salto, cada passo uma pegada. Quero abrir os olhos e não ter um cílio incomodando. Quero fechar os olhos com a certeza de que a harmonia reina no mundo afora enquanto durmo. Quero que meu pecado mais indizível seja perdoado com louvor. Quero que minhas mentiras sejam entendidas como verdades mal explicadas. Quero que minhas verdades não sejam desfocadas. Quero saborear a mais doce sensação que é a tua companhia. Quero que a campanhia toque e que seja você do outro lado da porta. Quero roubar teu sorriso e fazer dele um mural na parede da sala. Quero que minha sala sinta o prazer da tua presença. Quero o chão sob os meus pés.


Mas antes disso quero os pés.

E mais ainda quero o chão.


quarta-feira, 8 de julho de 2009

Música para baixar (MPB) - parte III


Covardia eu vir aqui falar de Cordel, né?
Pois bem, para eles, nunca é demais. =)

Arcoverde foi a cidade responsável por parir essa banda que engloba tudo que o sertão, e Pernambuco, têm de melhor. O reisado, o samba de coco e o ritmo indígena presentes nas suas canções, demonstram a levada e a embolada contagiantes desse grupo.

No palco, uma musicalidade teatral. A mistura de histórias do sertão, poesia e melodia fascina a quem assiste um dos seus shows. E essa combinação não demorou para conquistar o público sulista, que logo se rendeu à magia pernambucana.

Na frente disso tudo, José Paes de Lira. Lirinha quando sobe ao palco se transmuta, declama poemas, recita canções-poesias, e canta para um público que repete intensamente suas palavras. A percussão e o violão de Clayton Barros arrepiam, e são marcas registradas do Cordel do Fogo Encantado.

De 97 pra cá, três cds e um dvd (MTV ao vivo). E agora no segundo semestre é esperado o 4° cd da banda.

Saboreiem, sem o mínimo de moderação, o encantado fogo do Cordel. =)

http://umquetenha.blogspot.com/search/label/Cordel%20do%20Fogo%20Encantado

Fui!

quarta-feira, 1 de julho de 2009

1° de Julho

Todo dia ele caminhava naquele mesmo sentido. Dobrava à direita, descia a ladeira e seguia rua abaixo. Os ponteiros marcavam sempre as mesma horas e minutos. Todo dia. Não tinha feriado ou dia santo que fizesse aquele homem largar sua caminhada. Ele voltava sempre uma hora depois, cronometrado no relógio. Da minha porta, via quando ele rodava a fechadura e entrava de volta em casa, com um sorriso de cabo à rabo. Ele morava sozinho. Quem era aquele ser tão curioso? Era viúvo e não tinha filhos. A vizinhança fofoqueira dizia que ele tinha ficado louco, pois era apaixonado pela esposa que morreu tragicamente. Por anos me perguntei aonde aquele senhor ia, com aquele ar de desconfiado. Até que um certo dia matei minha curiosidade e o segui. Segundos depois de ele sair, calmamente eu fui guiando os meus passos pelos dele. Quando chegou no início da ladeira, ele dobrou à esquerda e entrou num bêco escuro, cheio de teias de aranha e insetos não muito agradáveis. No fim do bêco havia uma pequena porta de ferro enferrujada. Ele olhou para ver se tinha alguém lhe seguindo, abriu a porta lentamente e adentrou. Minutos depois, e sem conter minha curiosidade, enconstei na porta e ouvi som de licha e martelo. Abri e me deparei com um galpão, que tinha uma enorme estátua de pedra-sabão localizada ao centro, rodeada de estátuas menores. Ela tinha o formato de mulher. Ao fundo, tinha um grandioso quadro, ainda secando, idêntico à magnífica estátua. Surpreso e encantado, parado estava e parado fiquei. Ele veio até mim, com aquela cara de quem sabia que, mais cedo ou mais tarde eu iria segui-lo, e disse:

__Ela foi embora. Mas eu nunca deixei que ficasse longe de mim.

Quer lição? Pois bem.

“Não basta o compromisso, vale mais o coração. Já que não me entendes, não me julgues.”