quarta-feira, 1 de julho de 2009

1° de Julho

Todo dia ele caminhava naquele mesmo sentido. Dobrava à direita, descia a ladeira e seguia rua abaixo. Os ponteiros marcavam sempre as mesma horas e minutos. Todo dia. Não tinha feriado ou dia santo que fizesse aquele homem largar sua caminhada. Ele voltava sempre uma hora depois, cronometrado no relógio. Da minha porta, via quando ele rodava a fechadura e entrava de volta em casa, com um sorriso de cabo à rabo. Ele morava sozinho. Quem era aquele ser tão curioso? Era viúvo e não tinha filhos. A vizinhança fofoqueira dizia que ele tinha ficado louco, pois era apaixonado pela esposa que morreu tragicamente. Por anos me perguntei aonde aquele senhor ia, com aquele ar de desconfiado. Até que um certo dia matei minha curiosidade e o segui. Segundos depois de ele sair, calmamente eu fui guiando os meus passos pelos dele. Quando chegou no início da ladeira, ele dobrou à esquerda e entrou num bêco escuro, cheio de teias de aranha e insetos não muito agradáveis. No fim do bêco havia uma pequena porta de ferro enferrujada. Ele olhou para ver se tinha alguém lhe seguindo, abriu a porta lentamente e adentrou. Minutos depois, e sem conter minha curiosidade, enconstei na porta e ouvi som de licha e martelo. Abri e me deparei com um galpão, que tinha uma enorme estátua de pedra-sabão localizada ao centro, rodeada de estátuas menores. Ela tinha o formato de mulher. Ao fundo, tinha um grandioso quadro, ainda secando, idêntico à magnífica estátua. Surpreso e encantado, parado estava e parado fiquei. Ele veio até mim, com aquela cara de quem sabia que, mais cedo ou mais tarde eu iria segui-lo, e disse:

__Ela foi embora. Mas eu nunca deixei que ficasse longe de mim.

Quer lição? Pois bem.

“Não basta o compromisso, vale mais o coração. Já que não me entendes, não me julgues.”

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